Os Segredos da Construção Poética Baseada em Métrica, Rima e Oração
Qual o segredo da criação poética baseada em métrica, rima e oração?
Repentistas, cordelistas, poetas e compositores diversos que fazem uso de métrica e rima com perfeição são como oleiros fornecendo tijolos para os canteiros de obras do pensamento humano.
A métrica e a rima são elementos que dão forma a um conteúdo literário. Da mesma maneira que um tijolo constituído de barro é moldado por uma fôrma, as estrofes cordelianas, parnasianas e outras são moldadas por uma fôrma de métrica e rima.
O conteúdo literário, por sua vez, moldado em métrica e rima carece de uma liga, uma dose de lógica. Essa liga é como a água, a pressão e o calor adicionados à argila para a confecção do tijolo.
Sem a água para dar a liga inicial, a pressão para consolidar e organizar suas partículas e o calor para transformar a matéria bruta, o tijolo se desmancharia. Se as dosagens forem inadequadas, o tijolo, mesmo se não desmanchar totalmente, não será satisfatório ao que se destina.
Assim é a estrofe desprovida do que se chama de oração poética, mesmo que a fôrma da rima e da métrica seja usada, essa estrofe será inconsistente, um tijolo inapropriado à construção de um conceito, uma história, uma mensagem ou uma releitura informacional.
Na construção da estrofe, as palavras devem ser selecionadas, assim como para fazer o tijolo a terra tem que ser peneirada para que sejam separadas as partículas indesejadas das desejadas. Aí está o primeiro grande desafio do poeta, desenvolver uma peneira apropriada para a seleção do material a ser usado, as palavras.
Essa peneira começa a ser desenvolvida na forma de pensar e se expressar do indivíduo. Mas antes disso, é necessário descobrir o solo argiloso no vasto terreno mental ou preenchê-lo com a argila necessária por meio do aprendizado.
O tempo também transforma a areia em argila, mas não dispensa o aprendizado. Todo o processo de aprendizagem, repleto de prática, leva à fixação do conhecimento e este quando reforçado pela prática desenvolve no indivíduo a habilidade. Neste caso, se refina a sensibilidade para a rápida seleção das palavras e sua organização.
A pressão que consolida a organização das partículas de argila resulta da aplicação da força, que é traduzida em peso. No caso da concepção poética, essa pressão é a atenção direcionada – a concentração mental -, que reúne intensamente o material, dando forma a ele de acordo com os limites da fôrma. É verdade que a fôrma de métrica e rima limita o volume do material, ou seja, a quantidade de sílabas, mas não a qualidade do material e seu produto final.
Sem a utilização dos princípios da alavanca ou da mecânica hidráulica seria necessário muito esforço físico para a estruturação de um tijolo. Não há alavanca melhor que as emoções ou outros atributos capazes de aumentar significativamente a vibração mental do ser humano.
Com isso em mente, prensar o material disponível na fôrma se torna fácil, vai pelo jeito e não pela força. Essa capacidade pode ser desenvolvida pela prática. Aí nasce a velocidade do repentista.
Em síntese, comparando um poeta com um oleiro, são necessários alguns atributos:
1 – Matéria prima: Vocabulário, conhecimentos, experiência de vida, pontos de vista, subconsciente, impulsos de pensamento captados no éter, etc. Daí nascerá a essência da mensagem do poeta.
2 – Fôrma: Domínio das regras de métrica e rima. Conferirá a simetria rítmica da poesia metrificada.
3 – Peneira: Habilidades comunicacionais e senso estético. A escolha das palavras e rimas mais adequadas à transmissão da mensagem terá grande influência no resultado final.
4 – Liga: Raciocínio lógico indispensável ao elemento chamado de oração poética.
5 – Ferramenta de pressão (maromba): Emoções, desejos, entusiasmo e outras formas de estimulação mental. Aqui está a força transformadora invisível que atuará sobre todo o material usado e deixará sua influência em cada partícula dos tijolos dessa construção poética, dando autenticidade à mesma.
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Aproveito e convido você a ler e-cordel A Origem do Repente!
Um abraço!
João Santana
Legal a analogia do poeta com o oleiro. Na minha experiência com a poesia, não incluo a métrica com regras fixas, mas intuitivamente também funciona. Abs,
Olá, Leonel. Em muitos gêneros de poesia livre não há essa preocupação realçada com a fôrma métrica. Quando falamos de Literatura de Cordel, Poesia de Repente (nesta não dá tempo de contar sílabas, tem que ser um processo rítmico cerebral automatizado), ou sonetos com alexandrinos clássicos, soneto inglês e outros, a métrica se torna elemento de rigor. Atualmente estou desenvolvendo alguns sonetos para o projeto “Esperança, Corações Partidos” (www.coracoespartidos.com) e está sendo uma interessante oportunidade de exercitar diferentes tipos de métrica nos sonetos, inclusive os versos alexandrinos. Um abraço!
Caro leitor,
Infelizmente o blog foi vítima de “spams” e recebeu centenas de milhares de comentários nas postagens.
O problema foi resolvido em maio de 2018. A grande maioria dos comentários anteriores foi retida como spam e não há como resgatar. Conto com sua compreensão.
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